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Avelina e Lourdes
(Cuidador familiar)

O meu nome é Lourdes e sou co-cuidadora da tia Deolinda, que tem oitenta e nove anos.

O meu nome é Lourdes e sou co-cuidadora da tia Deolinda, que tem oitenta e nove anos.

Até há três ou quatro anos a tia Deolinda ainda ia à casa da filha, a Lídia, para lhe passar a ferro, tratar da roupa e dar-lhe uma ajuda. Mas um dia caiu e começou a ficar desorientada, e foi nessa altura que ela foi viver com a filha. O problema é que a Lídia também tem duas filhas e trabalha fora de casa. Foi por isso que eu me voluntariei para ajudá-la.

A tia Deolinda não é minha família direta, mas conheço-a desde menina e gosto muito dela. Por isso, quando soube que precisava de ajuda, não hesitei. Organizamo-nos como podemos: ela vem à minha casa todos os dias de manhã e sou eu quem a acompanha aos médicos e à Oficina da Memória. Também lhe faço exercícios de reabilitação. A Lídia não se pode ocupar da mãe porque as filhas ainda são adolescentes. A pequena teve de ceder o quarto para instalarem lá a avó. É uma situação complicada.

Eu falo muito com a tia Deolinda. Lemos juntas, ela faz sopas de letras, e também folheamos as revistas cor-de-rosa. Ela trabalhou toda a vida numa fábrica de tecidos e adora ver (e criticar!) os fatos das famosas.

Quando há escola, os meus netos vêm a casa todos os dias. Eles gostam muito da tia Deolinda. O mais novo tem três anos e está-lhe sempre a dizer: "Por que é que não falas comigo?" ou "Fala, tia Deolinda, fala!". As palavras do pequeno são um grande estímulo para ela. As crianças são mesmo espertas! Eu acredito que a companhia delas faz muito bem às pessoas idosas.

Desde que um dia teve um descuido, a tia Deolinda usa absorventes para a incontinência. É um descanso. Eu preparo uma bolsa com fraldas, toalhitas e umas luvas e lá vamos as duas para o parque. Um dia, até nos atrevemos a dar um passeio de barco. Ela divertiu-se imenso. Volta e meia apanhamos o autocarro e fazemos uma excursão. Ela muda logo de cara! E eu estou tranquila porque sei que não me vai apanhar desprevenida.

Há vizinhas que me têm dito que a tia Deolinda continua viva graças a mim. Eu não sei se isso é verdade, mas sim sei que ela gosta de estar comigo porque fazemos muitas coisas juntas. Eu tinha cuidado da minha mãe, por isso sei como é difícil. A princípio é natural sentirmo-nos sozinhos e desorientados, mas aos poucos vai-se aprendendo. É muito importante falar com as pessoas idosas, fazer-lhes muitas perguntas, trazê-las de volta para o presente, porque senão elas perdem-se no seu mundo de recordações.

É uma pena que quem nos governa não se aperceba do que fazemos, porque se assim fosse mudavam as leis, mudava muita coisa.

Eu não acho que aquilo que faço seja nada de especial, na verdade.

Quando se gosta de alguém, deseja-se o melhor para essa pessoa. Todos gostamos de nos sentir estimados.

Trata-se apenas disso.

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